O Grupo Gay da Bahia (GGB) divulgou neesta quarta-feira 12 seu Relatório
Anual de Assassinato de Homossexuais no Brasil (LGBT) relativo a 2013. Foram
documentados 312 assassinatos de gays, travestis e lésbicas no Brasil, incluindo
uma transexual brasileira morta no Reino Unido e um gay morto na Espanha. Um
assassinato a cada 28 horas. Um pequeno decréscimo (-7,7%) em relação ao ano
passado (338 mortes), mas um aumento de 14,7% desde a posse da Presidenta
Dilma. O Brasil continua sendo o campeão mundial de crimes homo-transfóbicos:
segundo agências internacionais, 40% dos assassinatos de transexuais e travestis
no ano passado foram cometidos no Brasil. Pernambuco e São Paulo são os estados
onde mais LGBT foram assassinados e Roraima e Mato Grosso onde os estados mais
perigosos para esse segmento. Manaus e Cuiabá foram as capitais onde
registraram-se mais crimes homofóbicos, sendo o Nordeste a região mais violenta,
com 43% de “homocídios”. Os estados menos violentos foram o Acre, sem
notificação de mortes de homossexuais nos últimos três anos, seguido do Amapá e
do Espirito Santo, respectivamente com 1 e 2 ocorrências. 2014 começa ainda mais
sangrento: só em janeiro foram assassinados 42 LGBT, um a cada 18 horas.
Como nos anos anteriores, o Nordeste confirma ser a região mais homofóbica do
Brasil, pois abrigando 28% da população brasileira, aí concentraram-se 43% das
mortes, seguido de 35% no Sudeste e Sul , 21% no Norte e Centro Oeste. Embora
Manaus (2 milhões de habitantes) tenha sido a capital onde foi registrado o
maior número de crimes homofóbicos (12), numero altíssimo se comparado com os 5
de São Paulo capital (12 milhões de habitantes), em termos relativos, Cuiabá é
a capital mais homofóbica do Brasil, com 17,6 homicídios para quase 570 mil
habitantes, seguida de João Pessoa, com 14,3 mortes para 770 mil. Palmas ocupa o
terceiro lugar, com 11,6 assassinatos para 257 mil habitantes, enquanto S.Paulo
teve 5 mortes de LGBT, o que representa 0,42 para 12 milhões de moradores.
Os gays lideram os “homocídios”: 186 (59%), seguidos de 108 travestis (35%),
14 lésbicas (4%), 2 bissexuais (1%) e 2 heterossexuais. Nessa lista foram
incluídos 10 suicidas gays que tiveram como motivo de seu desespero não suportar
a pressão homofóbica, como aconteceu com um gay de 16 anos, de São Luís, que
enforcou-se dentro do apartamento “por que seus pais não aceitavam sua condição
homossexual.” O Brasil confirma sua posição de primeiro lugar no ranking
mundial de assassinatos homo-transfóbicos, concentrando 4/5 de todas execuções
do planeta. Nos Estados Unidos, com 100 milhões a mais de habitantes que nosso
país, foram registrados 16 assassinatos de transexuais em 2013, enquanto no
Brasil, foram executadas 108 “trans”.O risco, portanto, de uma travesti ser
assassinada no Brasil é 1280 vezes maior do que nos EUA.
O GGB, que há mais três décadas coleta informações sobre homofobia no Brasil
denuncia a irresponsabilidade dos governos federal e estadual em garantir a
segurança da comunidade LGBT: a cada 28 horas um homossexual brasileiro foi
barbaramente assassinado em 2013, vítima da homofobia. Nunca antes na história
desse país foram assassinados e cometidos tantos crimes homofóbicos. A falta de
políticas públicas dirigidas às minorias sexuais mancha de sangue as mãos de
nossas autoridades. E 2014 começa ainda mais sanguinário: só neste último
Janeiro foram documentados 42 homicídios, um a cada 18 horas
Crimes por região, estado e capital. Pernambuco há décadas é
o estado onde mais LGBT são assassinados, 34 vítimas, para uma população de 9
milhões de habitantes, seguido por São Paulo, com 29 mortes para 43 milhões de
habitantes: o risco de um gay pernambucano ser assassinado é portanto 4 vezes
superior aos LGBT paulistas. Roraima com 3 homicídios é o estado mais perigoso
para homossexuais em termos relativos, com um índice de 6,15 assassinatos para
cada milhão de habitantes, sendo que para toda a população brasileira, o índice
é 1,55 vítimas LGBT por milhão de brasileiros. Mato Grosso ocupa o segundo
lugar em periculosidade: seus 15 assassinatos representam 4,71 crimes por
milhão, seguido do Rio Grande do Norte com 15 mortes, 4,45 por milhão de
habitantes. No outro extremo, os estados onde registraram-se menos homicídios
de LGBT foram o Acre – aparentemente nenhuma morte nos últimos três anos,
seguido do Espírito Santo, cujas 2 ocorrências representam 0,52 mortes para cada
milhão de habitantes; o Pará com 0,63, São Paulo com 0,66, Rio Grande do Sul com
1,16, Minas Gerais com 1,21 e Rio de Janeiro com 1,22 mortes para cada milhão
de habitantes.
Como nos anos anteriores, o Nordeste confirma ser a região mais homofóbica do
Brasil, pois abrigando 28% da população brasileira, aí concentraram-se 43% das
mortes, seguido de 35% no Sudeste e Sul , 21% no Norte e Centro Oeste. Embora
Manaus tenha sido a capital onde foi registrado o maior número de crimes
homofóbicos (12), numero altíssimo se comparado com os 5 de São Paulo capital,
em termos relativos, Cuiabá é a capital mais homofóbica do Brasil, com 17,6
homicídios para quase 570 mil habitantes, seguida de João Pessoa, com 14,3
mortes para 770 mil. Palmas ocupa o terceiro lugar, com 11,6 assassinatos para
257 mil habitantes, enquanto S.Paulo teve 5 mortes de LGBT, o que representa
0,42 para mais de 11,8 milhões de moradores.
Não se observou correlação evidente entre desenvolvimento econômico regional,
escolaridade, religião, raça, partido político do governador e maior índice de
homofobia letal.
A pesquisa. Segundo o coordenador desta pesquisa, o Prof.
Luiz Mott, antropólogo da Universidade Federal da Bahia, “a subnotificação
destes crimes é notória, indicando que tais números representam apenas a ponta
de um iceberg de violência e sangue, já que nosso banco de dados é construído a
partir de notícias de jornal, internet e informações enviadas pelas Ongs LGBT. A
realidade deve certamente ultrapassar em muito tais estimativas, sobretudo nos
últimos anos, quando policiais e delegados cada vez mais, sem provas, descartam
a presença de homofobia em muitos desses “homocídios”. Os autores somente
foram identificados em 103 (33%) destes crimes letais, sendo que em 67% não há
informação sobre a captura dos criminosos, prova do alto índice de impunidade
nesses crimes de ódio e gravíssima homofobia institucional/policial que não
investiga em profundidade tais homicídios. Impunidade observada não apenas no
pobre e homofóbico Nordeste, como na Bahia, com 18 dentre 20 crimes impunes, mas
também no rico e civilizado Sul, como no Paraná, que dos 15 homocídios, 12
permanecem impunes. Para o Presidente do Grupo Gay da Bahia, Marcelo Cerqueira,
“mesmo em crimes envolvendo latrocínio (matar para roubar), prostituição de
travestis e violência doméstica de casais lgbt, a homofobia cultural e
governamental são responsáveis por tais sinistros, pois estigmatizam e empurram
as travestis para a marginalidade, permitem o bullying nas escolas, acrescido do
efeito pernicioso dos sermões dos fundamentalistas aliados do Governo que
demonizam os gays, acirrando sobretudo entre os jovens o ódio
anti-homossexual.” Luiz Mott critica a ineficiência da Secretaria Nacional de
Direitos Humanos por não disponibilizar banco de dados sobre crimes letais
contra LGBT, além de ter divulgado no ano passado número inferior de
assassinatos do que os documentados pelo GGB: “mesmo sem verbas, sem apoio
institucional, nosso site “Quem a homotransfobia matou hoje” é o único
banco de dados disponível on line sobre tais crimes. Por isso é que há
mais de uma década o State Department dos Estados Unidos divulga nossos dados em
seu relatório anual sobre direitos humanos.”
Perfil das
vítimas: Quanto a idade, 7% dos LGBT tinham
menos de 18 anos ao serem assassinados, sendo o mais jovem uma travesti de
13 anos, da zona rural de Macaíbas (RN). Foram registrados também 10 casos de
suicídio de LGBTs em 2013. Segundo os especialistas em Criminologia , suicidas
homossexuais devem ser considerados vítimas da homofobia, entre esses, o ator
Walmor Chagas, encontrado morto com um tiro em sua residência em Guaratinguetá,
SP, o gay com maior idade, 82 anos. 31% das vítimas tinham menos de 30 anos e
10% mais de 50. A faixa etária que apresenta maior risco de assassinato (55%),
situa-se entre 20-40 anos.
Quanto à composição racial, chama a atenção o desinteresse dos jornalistas e
policiais em registrar a cor dos LGBT assassinados, apenas 56% das vítimas são
identificadas e dentre estas, há pequena superioridade de pardos e pretos, 53%
para 47% de brancos. Os/as pretos são o menor grupo vítima da homofobia letal,
3%, estando ausentes no segmento das lésbicas.
Os homossexuais assassinados exerciam 64 diferentes profissões, confirmando a
presença do “amor que não ousava dizer o nome” em todas as ocupações e estratos
sociais. Predominam as travestis profissionais do sexo, 32 das vítimas (45%),
seguidas de 28 cabeleireiros, 17 professores, 7 estudantes, 4 empresários e
funcionários públicos, 3 atores e comerciantes, 2 aposentados, autônomos e
padres, etc.
Quanto à causa mortis, repete-se a mesma tendência dos anos anteriores,
confirmando pela violência extremada, tratar-se efetivamente tais mortes do que
a Vitimologia chama de crimes de ódio: 100 dos assassinatos foram
praticados com arma branca (faca, punhal, canivete, foice, machado, tesoura), 93
com armas de fogo, 44 espancamentos (paulada, pedrada, marretada), 31 por
asfixia, 4 foram queimados. Constam ainda afogamentos, atropelamentos,
enforcamentos, degolamentos, empalamentos e violência sexual, tortura. Quinze
das vítimas levaram mais de uma dezena de golpes ou projéteis. Dentre os crimes
mais chocantes, destacam-se: Emanuel Bernardo dos Santos, de Serra Redonda, PB,
65 anos, professor e ex-vereador, morreu com 106 facadas e com cabo de foice
introduzido no ânus; Eliwellton da Silva Lessa, negro, 22 anos, de São
Gonçalo, RJ, após ter sido xingado de “viado”, o motorista passou três vezes com
o carro sobre seu corpo; a travesti Thalia, 31 anos, de Guarulhos, SP, foi morta
com 20 tesouradas e teve seu pênis cortado; o funcionário público Everaldo Gioli
de Andrade, 37 anos, foi morto num terreno baldio em Cuiabá, seu carro
queimado, “o corpo foi encontrado amarrado, com visíveis sinais de tortura, com
queimaduras feitas com pontas de cigarro e com mais de 20 golpes de facas e
buracos de balas pelo corpo.” Fotos chocantes e descrição desses homicídios
encontram-se documentados emhttp://homofobiamata.wordpress.com/
O padrão predominante é o gay ser assassinado dentro de sua residência, com
armas brancas ou objetos domésticos, enquanto as travestis e transexuais são
mortas na pista, a tiros.
Assassinos: Quanto aos autores destes crimes homofóbicos, a
mídia é extremamente lacunosa, já que apenas 1/4 dos homicidas foram
identificados nos inquéritos policiais. Destes, 17% tinham menos de 18 anos,
demonstrando o altíssimo índice de homofobia entre os jovens, 85% abaixo de 30
anos. 1/5 desses crimes foram praticados por 2 a 4 homens, aumentando ainda mais
a vulnerabilidade da vítima. Predominam entre estes criminosos, seguranças
particulares, rapazes de programa e ocupações de baixa remuneração, muitos
destes crápulas já com passagem pela polícia e uso de revólver, já que 4/5
dessas mortes foram praticadas com arma de fogo.
Crimes Homofóbicos. Seriam todos esses 312 assassinatos
crimes homofóbicos? O Prof. Luiz Mott é categórico: “99% destes homocídios
contra LGBT têm como agravante seja a homofobia individual, quando o assassino
tem mal resolvida sua própria sexualidade e quer lavar com o sangue seu desejo
reprimido; seja a homofobia cultural, que pratica bullying contra lésbicas e
gays, expulsando as travestis para as margens da sociedade onde a violência é
endêmica; seja a homofobia institucional, quando o Governo não garante a
segurança dos espaços frequentados pela comunidade lgbt ou como fez a Presidente
Dilma, ao vetar o kit anti-homofobia, que deveria ter capacitado mais de
6milhões de jovens no respeito aos direitos humanos dos homossexuais e mais
recentemente, ao ter pressionado os senadores da base aliada para que não
aprovassem o PLLC 122 que equiparando a homofobia ao crime do racismo.” Para o
analista de sistemas Dudu Michels, responsável pela manutenção do banco de
dados, “quando o Movimento Negro, os Índios ou as Feministas divulgam suas
estatísticas letais, não se questiona se o motivo de todas as mortes foi racismo
ou machismo, porque exigir só do movimento LGBT atestado de homofobia nestes
crimes hediondos? Ser travesti já é um agravante de periculosidade dentro da
intolerância machista dominante em nossa sociedade, e mesmo quando um gay é
morto devido à violência doméstica ou latrocínio, é vítima do mesmo machismo
cultural que leva as mulheres a serem espancadas e perder a vida pelas mãos de
seus companheiros, como diz o ditado, ‘viado é mulher tem mais é que
morrer!”
O Grupo Gay da Bahia disponibiliza em seu site http://homofobiamata.wordpress.com/ o banco
de dados completo com todas as notícias de jornal, vídeos, tabelas e gráficos
sobre todos os 312 assassinatos de LGBT de 2013, assim como o manual “Gay vivo
não dorme com o inimigo” como estratégia para erradicar esse “homocausto”.
Solução contra crimes homofóbicos. Para o Presidente do GGB,
Marcelo Cerqueira, “há quatro soluções emergenciais para a erradicação dos
crimes homofóbicos: educação sexual para ensinar aos jovens e à população em
geral o respeito aos direitos humanos dos homossexuais; aprovação de leis
afirmativas que garantam a cidadania plena da população LGBT, equiparando a
homofobia e transfobia ao crime de racismo; exigir que a Polícia e Justiça
investiguem e punam com toda severidade os crimes homo/transfóbicos e
finalmente, que os próprios gays, lésbicas e trans evitem situações de risco,
não levando desconhecidos para casa e acertando previamente todos os detalhes da
relação. A certeza da impunidade e o estereótipo do gay como fraco, indefeso,
estimulam a ação dos assassinos.”
Relatório do GGB registrou 312 assassinatos de gays em 2013;confira os dados
Publicação por: Grupo Contra o Preconceito on 03:49. - No comments
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